As três galáxias que
podemos ver a olho nu
Guilherme Murici Corrêa (Monitor UFMG/Frei Rosário)
Galáxias
Todos os planetas do nosso Sistema Solar orbitam o Sol, que
é apenas uma dentre bilhões de estrelas que compõe a nossa galáxia: A Via
Láctea. Observada e nomeada desde tempos muito remotos, foi apenas descoberto
que o “caminho de leite” na verdade se tratava de um imenso número de estrelas,
quando o famoso astrônomo Galileu Galilei a observou.
Quando observamos o céu em uma noite sem nuvens podemos ver
milhares de estrelas dependendo das condições do local de onde observamos. Todas
estas estrelas fazem parte desta galáxia em que o sistema solar está localizado.
Se abstrairmos um pouco e pensarmos cada vez mais distante, haverá um momento em
que será possível distinguir uma forma para esta organização de estrelas, no
caso da via Láctea será uma forma espiralada praticamente planar, ou seja, a
grande maioria das estrelas está localizada em um plano, o “disco” galáctico. O
primeiro astrônomo a chegar a esta conclusão foi o também famoso William
Herschel que mais tarde obteve confirmação de suas observações quando Harlow
Shapley descreveu como as estrelas estariam organizadas em relação ao centro
(bojo) da galáxia e também demonstrou que o Sol está mais próximo à borda da Via
Láctea.
Fotografia da Via Láctea
As galáxias são, portanto, formadas de estrelas, milhões ou
bilhões delas. Existem várias classificações para cada uma dependendo de sua
forma, como por exemplo, galáxias irregulares, elípticas, espirais, como é o
caso da Via Láctea, Andrômeda, entre outras. As galáxias espirais também podem
possuir um formato característico que é denominado de espiral barrada.
Entre as estrelas se encontra também muito gás e poeira, de
fato ¾ da massa de uma galáxia está na forma de gás e poeira. Este é o material
que restou de estrelas que já “se foram” e é também o material que novas
estrelas utilização para se formar. Comentando de maneira breve: Estrelas são
formadas principalmente por nuvens de gás, principalmente hidrogênio, que é o
elemento mais simples existente e o primeiro a sofrer o processo de fusão
nuclear no ciclo de reações que ocorrem durante o período de atividade de uma
estrela.
Toda essa poeira e gases existentes nas galáxias também
emitem luz porque seus átomos estão sendo excitados de alguma forma pela
radiação das estrelas vizinhas e quando seus respectivos elétrons retornam ao
estado fundamental, estes emitem fótons. Repare estas regiões nebulosas
observando, por exemplo, as partes de cores azuis e rosas nesta fotografia da
galáxia M66:
M66
Observando em todas as direções é possível ver galáxias que
podem estar tão perto como algumas centenas de milhares de anos luz até galáxias
tão distantes que são necessários telescópios de grande porte para se fotografar
e estudar. Devido a estas grandes distancias envolvidas no estudo e observação
de galáxias, parece pouco provável observa-las à vista desarmada ou mesmo com
pequenos telescópios ou binóculos.
Galáxia do Triangulo
Felizmente isto não é verdade, a Via Láctea
possui algumas galáxias satélites, isso mesmo, assim como a lua é um satélite
natural da Terra, existem galáxias pequenas quando comparadas à Via Láctea que
estão gravitacionalmente relacionadas “conosco”. Este fato intrigante nos
permite observar dois objetos muito interessantes que são melhores observados de
latitudes mais austrais devido à suas localizações no céu.
Todas estas características peculiares são o
motivo da descoberta relativamente tardia das nuvens de Magalhães. Como o nome
já sugere, estes objetos que mais tarde foram estudados e percebidos como
galáxias, foram descobertos pelo navegador Fernão de Magalhães em torno de 1519.
Juntamente com as nuvens de Magalhães, a
grande galáxia de Andrômeda também pode ser observada à vista desarmada.
O que é possível
observar a olho nu?
Infelizmente todos os detalhes, contornos e
cores como visíveis por estas fotos acima somente podem ser observados através
de telescópios de grande abertura que são utilizados para realizar fotografias
de exposição, realçando e evidenciando características que o olho nu não
conseguirá distinguir.
Por outro lado, observar o céu a olho nu é
uma atividade simples e prazerosa. Quando uma observação sem instrumentos é
feita com cuidado muitos objetos interessantes podem se revelar. E embora pareça
difícil observar uma galáxia devido aos fatos de que estes corpos estão muito
distantes e também que o brilho proveniente de uma galáxia não é concentrado
como o brilho visível de uma estrela, ainda sim é possível observar estas três
galáxias: A galáxia de Andrômeda, A Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem
de Magalhães. Esta observação auxilia o conhecimento dos objetos celestes e
fornece um maior contato com o que observamos, já que se torna bem mais fácil
observar objetos quando possuímos uma noção de orientação, das constelações e
assim em diante.
É possível reconhecer que
estes objetos, a primeira vista apenas manchas no céu, são de fato grupos de
estrelas e, de uma maneira bem geral, vários outros objetos próximos serão
melhores observados quando conseguimos identificar suas localizações como
aglomerados estelares e nebulosas.
A Pequena
Nuvem de Magalhães
Pequena Nuvem de Magalhães e o Aglomerado de 47 Tucano
Esta galáxia irregular está próxima à constelação do Tucano
e está a menos de 200 mil anos luz da nossa galáxia. É uma galáxia satélite da
nossa e possui diversos objetos nebulosos próximos como o famoso aglomerado
globular de 47 Tucano. É importante lembrar que para observa-la é necessário um
local com pouca poluição luminosa, além de ser mais facilmente observada quando
a Lua não estiver no céu. A mancha tênue ligeiramente esbranquiçada não será
confundida quando o observador se lembrar de sua localização:
Carta celeste
indicando localizações das nuvens de Magalhães observando na direção E-SE e
baseando-se em estrelas brilhantes
NGC 104 ou 47
tucanae é o segundo aglomerado globular mais brilhante de todo o céu
A Grande Nuvem de
Magalhães
Assim como a Via Láctea e
a pequena nuvem de Magalhães, a grande nuvem de Magalhães também pertence ao
grupo local de galáxias e é do tipo irregular. Trata-se de um objeto que está
próximo à constelação de Dorado e está a apenas cerca de 170 mil anos luz da Via
Láctea. Estende-se por uma extensão consideravelmente maior que Pequena Nuvem de
Magalhães e possui, similarmente, muitos objetos nebulares próximos muito
interessantes como a nebulosa da tarântula.
A grande nuvem de
Magalhães (LMC) e a nebulosa da tarântula, acima à esquerda.
Uma curiosidade sobre a
grande nuvem de Magalhães é que sua órbita é praticamente circular ao redor da
via Láctea. Observações e estudos foram realizados e este objeto é uma fonte de
estudos para questões como a matéria escura (dark matter) na nossa própria
galáxia.
A
Nebulosa da Tarântula
A galáxia de
Andrômeda
O objeto mais distante que é possível de se
observar à vista desarmada, é uma grande galáxia que junto com as duas
anteriores também faz parte do grupo local. Galáxia do tipo espiral que possui
um diâmetro de aproximadamente 250 mil anos luz, (mais do que o dobro do
diâmetro da via Láctea!) e está distante cerca de 2.9 milhões de anos luz da
nossa galáxia. Possui galáxias satélites e está localizada na constelação de
Andrômeda, a princesa, um dos personagens da mitologia grega. Melhor observada
do hemisfério norte, possui a seguinte localização:
Também conhecida como M31,
objeto 31 do catálogo do astrônomo francês Charles Messier, Andrômeda possui uma
aparência bem uniforme quando observada a olho nu. O mais desafiador dos objetos
desta lista é também uma bela indicação de uma região do céu próxima a estrelas
muito conhecidas, principalmente no hemisfério norte. Um local com pouquíssima
iluminação deve ser buscado para observar a região mais central da galáxia. Se
observado por binóculos ou pequenos telescópios, o formato oval é facilmente
distinguível, já quando observado por telescópios de maior abertura, detalhes
mais profundos são revelados.
Três fotos da Galáxia de Andrômeda
Observar galáxias definitivamente não é uma
tarefa fácil, contudo é muito interessante e divertido. Observadores que desejam
ir além do sistema solar, têm um bom ponto de partida. Estas três galáxias podem
ser o início de uma grande jornada através de objetos difusos mais complexos
como nebulosas e galáxias mais distantes. Mesmo um observador despretensioso vai
com certeza encontrar motivação para conhecer por si mesmo estes objetos.
http://www.observatorio.ufmg.br/dicas06.htm acesso em 08/09/2014